Fumaça de madeira

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O olhar de Susana Casarin tem se dedicado ao pão artesanal das fotografias que exaltam a condição humana, o suor da testa, para indicar a riqueza de um comércio que vem diminuindo no México, o do tahonero.

Hoje ele é designado, sem mais delongas, como padeiro, mas se encaixa em uma categoria única. No século XVIII aquela casa particular onde se vendia pão, cujo fabricante e vendedor era o tahonero, distinguia-se como padaria. Nos bairros antigos das cidades e vilas do México existem estabelecimentos semelhantes em que se produz um pão caseiro que se espalha no corredor ou na calçada, e a cujo forno vão os vizinhos quando por ocasião de uma festa pedem um bolo ou Eles precisam cozinhar uma coxa de porco, um filé mignon, o peru de Natal.

E se há tanta padaria moderna no México, por outro lado, os fornos a lenha são escassos. Já as padarias caseiras instalam fornos a gás com “tochas” ou queimadores como os das padarias industriais, que mudam o sabor do pão, pois suprimem aquele toque balsâmico do fogão que outrora envolvia sua suculência. É a província mexicana onde sobrevivem as tahonas com forno a lenha. Os tahoneros modernos, embora sem guilda, preservam a hierarquia que distingue o mestre de seus oficiais; Eles mantêm uma despensa com forno em sua casa, que serve de fábrica. Em alguns casos, o estabelecimento cresce para se tornar uma padaria com um local exclusivo para a venda. O olhar fotográfico de Susana Casarin pousou felizmente neste comércio tradicional, a que a população continua a recorrer, reconhecendo, em cada caso, o melhor pão da zona.

Ao documentar essas padarias, o ensaio de Casarin adquire interesse no declínio crescente do forno a lenha, mas o espírito que guia o fotógrafo parece não ser a reivindicação da padaria, mas a revelação de sua culinária e seus aspectos ocultos nas mãos de seus criadores. Ela privilegia os interiores, através dos quais expõe a fecunda mistura de carência e abundância que distingue a padaria. Ao pão modesto é concedida a graça da multiplicação, o gesso torna-se tangível nas suas fotografias, onde se reconciliam pobreza e dom.

Através do claro-escuro, e por vezes utilizando a textura com grão estourado, Susana Casarín descobre, num processo em que a impressão fotográfica quase se assemelha a uma cozinha, a migalha desta tarefa. Em imagens contrastadas naturalmente pela luz interior do forno ou pelo raio do sol da rua - luzes que lutam com o fumo e a fuligem, mais aliadas com a farinha mate -, as fotografias dão ao observador calor e mistério.

Fonte: Desconhecido México No. 323 / janeiro 2004

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